Press release 19 Jun, 2012

Salvar a rede da vida

O manancial de alimentos, remédios e água limpa, e a sobrevivência de milhões de pessoas pode estar ameaçado pelo rápido declínio das espécies animais e vegetais do planeta. A última atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas ™, da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), publicada hoje, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, na cidade do Rio de Janeiro, Brasil, demonstra que das 63,837 espécies avaliadas, 19,817 encontram-se ameaçadas de extinção, das quais 41% de anfibios, 33% de corais formadores de recifes, 25% of mamíferos, 13% de aves, e 30% de coníferas. A Lista Vermelha da UICN é um indicador crucial da saúde da biodiversidade mundial.

“A sustentabilidade é uma questão de vida ou morte para a população do planeta,” diz Julia Marton-Lefèvre, Diretora Geral da UICN (União Internacional pela Conservação da Natureza). “Um futuro sustentável não será possível sem conservarmos a diversidade biológica - as espécies animais e vegetais, seus habitats e sua genética - não somente por causa da natureza, mas também pelos 7 bilhões de pessoas que dependem dela. A última Lista Vermelha da UICN é um alerta para os líderes mundiais que se reúnem no Rio para que salvem a rede vital do planeta."

A maioria da população nos países ricos depende primordialmente de espécies domesticadas para a sua alimentação, ao passo que milhões de outras pessoas no mundo dependem de espécies selvagens. Os ecossistemas de água-doce estão sob grave pressão devido ao aumento populacional e à exploração dos recursos aquáticos. Fonte alimentícia importante, os peixes de água doce estão ameaçados pelas práticas pesqueiras insustentáveis e pela destruição do seu habitat pela poluição e construção de barragens. Mundialmente, um quarto da produção pesqueira não-litorânea encontra-se no continente Africano, porém 27% dos peixes de água-doce na África estão ameaçados de extinção, inclusive o Oreochromis karongae, uma fonte de alimento extremamente importante na região do Lago Malawi, que vem sendo gravemente sobreexplorada. Estudos mais aprofundados estão sendo realizados em outras regiões, e na última atualização da Lista Vermelha da UICN, o Arenque do Mekong (Tenualosa thibaudeaui), um importante peixe comercial, endêmico da bacia do rio Mekong, na região Indo-birmanesa, foi classificado como Vulnerável, devido à sobrepesca e à degradação do seu habitat.

Em algumas partes do mundo, até 90% da população litorânea obtém a maior parte da alimentação, e tem como fonte de renda principal, a atividade pesqueira; contudo, a pesca excessiva já reduziu mais de 90% de alguns estoques de peixe comercial. 36% das arraias estão ameaçadas de extinção, inclusive a arraia Leopardo (Himantura leoparda), de grande valor comercial, classificada como Vulnerável devido à enorme degradação do seu hábitat e forte pressão pesqueira. Mais de 275 milhões de pessoas dependem dos recifes de coral para alimentação, proteção da orla marítima e sobrevivência. Globalmente, a pesca em recifes de coral vale USD 6.8 bilhões anuais. A pesca excessiva afeta 55% dos recifes mundiais, e segundo a Lista Vermelha da UICN, 18% das garoupas, uma família de grandes peixes de recife, economicamente importante, estão ameaçadas. Os recifes de coral devem ser gerenciados de forma sustentável para assegurar que continuem a fornecer a fonte de proteína essencial da qual dependem milhões de pessoas.

“Os serviços e o valor econômico proporcionados pelas espécies são insubstituíveis e essenciais ao nosso bem-estar,” diz Jon Paul Rodríguez, Vice-Presidente da SSC (Comissão de Sobrevivência das Espécies) da UICN. “Se não vivermos dentro dos limites estabelecidos pela natureza, e gerenciarmos os mananciais de forma sustentável, mais e mais espécies serão levadas à extinção. Se ignorarmos nossa responsabilidade, comprometeremos nossa própria sobrevivência.”

Parentes silvestres das espécies de plantas cultivadas, tais como a Beta patula, um parente silvestre da beterraba cultivada, são de vital importância para a segurança alimentar e a agricultura, pois podem ser utilizados para produzir novas variedades de cultivos. Estima-se que os parentes silvestres contribuem mais de USD 100 bilhões, mundialmente, ao incremento da produção agrícola. No mínimo um terço da produção mundial de alimentos, inclusiva 87 dos 113 principais cultivos alimentícios, depende da polinização efetuada por insetos, morcegos e aves. Este serviço prestado pelo ecossistema é avaliado em mais de USD 200 bilhões por ano. Segundo a Lista Vermelha da UICN, 16% das borboletas endêmicas da Europa estão ameaçadas. Os morcegos, polinizadores igualmente importantes, também estão em risco, com 18% ameaçados mundialmente. A mais recente atualização da Lista Vermelha da UICN apresenta quatro membros da família dos beija-flores notórios pelos seus serviços de polinização, que atualmente estão em maior risco de extinção, dos quais o Garganta-Rosa Brilhante (Heliodoxa gularis) é classificado como Vulnerável. Além de serem polinizadores importantes, os morcegos e pássaros também ajudam a controlar a população de insetos, que de outra forma poderiam destruir lavouras economicamente importantes.

Espécies exóticas invasoras são uma das principais e mais crescentes ameaças à segurança tanto da alimentação, como da saúde humana e animal, e da biodiversidade. Uma análise recente dos dados da Lista Vermelha da UICN ressaltou que as espécies exóticas invasoras são a quinta mais séria ameaça aos anfíbios e a terceira mais séria ameaça às aves e mamíferos. Juntamente com as mudanças climáticas, as espécies exóticas invasoras tornaram-se uma das ameaças mais difíceis de reverter. Por exemplo, o Jacinto-de-água-comum (Eichnornia crassipes) é uma planta aquática nativa da bacia amazônica, porém, na Africa, a rápida multiplicação desta planta representa uma séria ameaça ao abastecimento de água e à utilização de rios e lagos para a pesca e o transporte. As consequências econômicas podem atingir até USD 100 milhões anuais em toda a África. Soluções que incluem conscientização e medidas preventivas, além de alertas antecipados e sistemas de reação rápida com programas de contenção, controle e erradicação, precisam ser implementadas tanto em escala regional como global, para se reduzirem os efeitos negativos das espécies exóticas.

“A mudança para uma ‘economia verde’ exige o reconhecimento do papel que a biodiversidade e os ecossistemas desempenham nos assuntos econômicos,” diz a Dr Jane Smart, Diretora Global do Grupo de Conservação da Biodiversidade da UICN. “A biodiversidade é o alicerce do ‘verde’ na economia verde. Um futuro realmente sustentável só será possível se os líderes no Rio buscarem soluções que conservem a biodiversidade e ao mesmo tempo apóiem a sobrevivência e criem oportunidades de investimento empresarial.”

A mais recente Lista Vermelha da UICN cita que 10% das serpentes endêmicas da China e do sudeste asiático estão ameaçadas de extinção. As serpentes são utilizadas para medicamentos tradicionais e soro anti-ofídico e para alimento, além de serem uma fonte de renda através da venda do couro. Aproximadamente 43% das espécies de serpentes endêmicas no sudeste asiático, classificadas como Em Perigo de extinção ou Vulnerável, estão ameaçadas devido ao uso insustentável. A maior cobra venenosa do mundo, a Cobra-real (Ophiophagus hannah), está listada como Vulnerável devido à perda do habitat e à sobreexploração para fins medicinais. A Píton Birmanesa (Python bivttatus), mais conhecida no Ocidente como uma das espécies invasoras dos pântanos Everglades da Flórida, também está na lista como Vulnerável, na sua área de distribuição nativa, tendo como sua maior ameaça o comércio e a sobreexploração para alimento e couro, especialmente pela China e Vietnam. Apesar de ter sido designada como espécie protegida na China, as populações dessa espécie no país não dão mostras de recuperação, e a exploração ilegal continua.

Em alguns países, plantas medicinais e animais fornecem a maior parte dos medicamentos, e até mesmo em países tecnologicamente avançados, como os EUA, a metade dos 100 medicamentos mais receitados provém de espécies selvagens. Os anfíbios desempenham um papel vital na busca de novos medicamentos, pois no couro de muitas rãs encontram-se componentes químicos importantes. Contudo, 41% das espécies de anfíbios estão ameaçadas de extinção, inclusive a rã recentemente descoberta em Madagascar, chamada Anodonthyla hutchisoni, que é atualmente classificada como Em Perigo de extinção. Mais de 70,000 espécies diferentes de plantas são utilizadas na medicina, tanto tradicional como moderna. A atualização publicada hoje, da Lista Vermelha da IUCN, inclui várias plantas do sudeste asiático que são utilizadas como alimento e medicamento. O cardamomo Tsao-ko (Amomum tsao-ko) está classificado como Quase Ameaçado devido à extração excessiva para o comércio dos seus frutos comestíveis. Em muitos casos, a combinação de extração excessiva com a perda do habitat após desmatamentos, além de outras ameaças, faz com que determinadas espécies passem à uma das categorias ameaçadas. Dois parentes silvestres do açafrão-da-terra, o Curcuma candida e o Curcuma rhabdota, estão classificados como Vulnerável, além do Zingiber monophyllum, uma espécie selvagem de gengibre que está classificado como Em Perigo de extinção.

Outros serviços importantes prestados pelas espécies incluem a melhoria e o controle da qualidade do ar pelas plantas e árvores. Uma árvore frondosa e madura produz a mesma quantidade de oxigênio inalada por 10 pessoas durante um ano. Elas limpam o solo, atuam como tanques de carbono e limpam o ar. Os moluscos bivalves e muitas plantas pantaneiras prestam serviços de filtração de água, fornecendo água limpa, e os caracóis ajudam a controlar as algas. Na África, 42% de todos os moluscos de água doce estão globalmente ameaçados e na Europa 68% dos moluscos de água doce endêmicos estão globalmente ameaçados por perda do habitat, poluição e construção de barragens.

“A maior parte das causas da perda da biodiversidade, inclusive da extinção de espécies, é de caráter econômico,” diz o Dr Simon Stuart, Presidente da Comissão de Sobrevivência das Espécies, da UICN. “Uma economia só pode ser considerada ‘verde’ se estiver tentando atingir os 20 Metas de Aichi para a biodiversidade acertados pelos governos em 2010.”

As questões referentes a sobrevivência e conservação de espécies será discutida no Congresso Mundial de Conservação da UICNem Jeju, República da Coréia, de 6 a 15 de setembro de 2012.

Quotes from IUCN Red List partner organizations

“Recent work on plant assessments suggests that around 1 in 5 plants are threatened with extinction. Three quarters of the world’s population depends directly on plants for their primary health care. Eighty percent of our calorie intake comes from 12 plant species,” says Professor Stephen Hopper, Director (CEO and Chief Scientist), Royal Botanic Gardens, Kew. “If we care about the food we eat, and the medicines we use, we must act to conserve our medicinal plants and our crop wild relatives. There are large gaps in our knowledge and much work needs to be done to secure the future of plants and fungi which are critical to our survival.”

“A green economy is one that values all species, whether they have market value or not,” says Professor Jonathan Baillie, Director of Conservation Programmes, Zoological Society of London. “To stop the rapid increase of threatened species and ecosystems the Rio + 20 Earth Summit must succeed in laying the foundation of a new development path that values all life.”

“Expanding both the number and diversity of species assessed on the IUCN Red List is imperative if we are to have a clear understanding of our impact on the natural world,” says Richard Edwards, Chief Executive of Wildscreen, who are working with IUCN to help raise the public profile of the world’s threatened species through the power of wildlife and environmental imagery. “The latest update to the IUCN Red List highlights the impacts we are having on the world’s biodiversity, even those species that so many of the human population rely on for food, medicine, clean water, etc. We need to successfully communicate the plight, significance, value and importance of all these species if we are to rescue them from the brink of extinction.”

“More than half of the snake species identified as threatened with extinction - 57% - are at most risk from habitat loss and degradation. The Malaysian island Pulau Tioman is home to three of the Critically Endangered reptile species – the Pulau Tioman ground snake, Boo-Liat’s kukri snake and a recently described reed snake, Oligodon booliati – that are under threat from development destroying the small area of remaining forest. This could result in their extinction within a decade,” says Dr Russell Mittermeier, IUCN Vice President and President of Conservation International. “In cases such as the Vulnerable King Cobra and Burmese Python, to which exploitation is the greatest threat, forest loss is an additional pressure. These two species may in fact be considerably more threatened, but research is urgently needed to confirm this. Ultimately, declines and losses of species are a symptom of broader human pressures on their habitats.”

“With the spotlight shining on Brazil at the Rio+20 conference, it is worrying that almost 100 bird species from the Amazon have been moved to higher categories of threat in the 2012 IUCN Red List following an analysis by BirdLife International on the impacts of projected Amazonian deforestation,” says Dr Stuart Butchart, Global Research Coordinator, BirdLife International.

“We find cause for hope in the rediscovery of species even in the United States, like the Wicker Ancylid from Alabama's Coosa River valley,” says Mary Klein, president and CEO of NatureServe. "But by highlighting how many species still face ongoing local and global threats, the current update to the Red List underscores the fundamental need to continue and even expand efforts to assess extinction risks to species.”

O financiamento foi amavelmente fornecido pelo United States Fish and Wildlife Service para o workshop da Lista Vermelha da UICN das serpents asiáticas.

Maggie Roth, Assessoria de Imprensa da IUCN, +1 202 262 5313, email [email protected] 
 
Lynne Labanne, Oficial de Comunicações do Programa das Espécies da IUCN, telefone +41 22 999 0153, celular +41 79 527 7221, email [email protected]

Camellia Williams, Comunicações do Programa das Espécies da IUCN, telefone +41 22 999 0154, email [email protected]