Story | 21 Jul, 2020

A restauração da bacia do Rio Doce requer medidas adaptativas para enfrentar a mudança climática

O novo relatório do Painel do Rio Doce destaca a vulnerabilidade da região e recomenda que a Fundação Renova e outros atores elaborem um plano de ações conjuntas em resposta à emergência climática.

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Photo: Sebastião Salgado

Brasília, 21 de julho de 2020 - Hoje, o Painel independente do Rio Doce divulgou seu segundo relatório, Integração da perspectiva da mudança climática na restauração da Bacia do Rio Doce, que chama a atenção para os extremos climáticos da região e os riscos que eles representam para alguns dos programas de restauração da Fundação Renova. 

As recomendações trazem orientações para que a Fundação Renova e outros decisores da região busquem, em conjunto, soluções econômicas e eficientes para tratar das ameaças de longo prazo. Possíveis abordagens incluem o uso de Soluções baseadas na Natureza na manutenção da infraestrutura hídrica, a redução das emissões de gases de efeito estufa e capacitação para as autoridades estaduais e locais se adaptarem aos eventos climáticos por meio de mais cooperação e participação.

Cientistas afirmam que as fortes tempestades do primeiro semestre de 2020 na região sudeste do país, onde fica a bacia do Rio Doce, com secas extremas no período de estiagem, refletem as mudanças de longo prazo dos padrões de precipitação. Além disso, as fortes chuvas poderiam ter agitado os rejeitos depositados no rio pelo rompimento da barragem de Fundão em 2015, mais uma vez expondo as comunidades aos efeitos do desastre inicial.

As mudanças climáticas causadas pelo ser humano representam um dos maiores riscos para a natureza, pondo em risco a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os modelos de simulação climática preveem um aumento de temperatura de 2-4 graus Celsius na região onde fica a Bacia do Rio Doce até o final do século XXI, que deve causar o aumento das enchentes, do nível do mar e da erosão costeira. 

"A bacia do Rio Doce está em uma região altamente exposta aos riscos da mudança climática”, diz Peter May, especialista em economia ecológica e sequestro de carbono em sistemas naturais e autor principal do relatório. “A redução das chuvas afetará a viabilidade das florestas e terras agrícolas da região, bem como sua biodiversidade, trazendo ainda mais impactos econômicos para as pessoas da região.".

O Relatório destaca as ameaças a alguns dos programas da Renova e pede a adoção de um plano de restauração de baixo carbono, que inclua capacitação em matéria de adaptação e incentivos financeiros para reduzir as emissões.

Yolanda Kakabadse, Presidente do Painel do Rio Doce, afirma: “Para que a bacia hidrográfica do Rio Doce se recupere, é essencial investir em políticas resilientes ao clima e soluções adaptativas. A Fundação Renova tem a oportunidade de reunir as partes interessadas nos níveis regional e local para elaborar um plano de ações conjuntas para mitigar os impactos da mudança climática nas comunidades.”

Convocado e administrado pela UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), o Painel do Rio Doce é composto por especialistas nacionais e internacionais que acumulam grande conhecimento técnico, qualificações acadêmicas e conhecimentos locais. A Presidente do Painel, Yolanda Kakabadse, é ex-Ministra do Meio Ambiente do Equador e ex-Presidente da UICN. O autor principal é Peter May, ex-Presidente da Sociedade Internacional de Economia Ecológica-ISEE com PhD em economia de recursos pela Cornell University e estudos de pós-doutorado no Earth Institute da Columbia University. É Professor do Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, no Brasil.