News | 29 Nov, 2022

Painel do Rio Doce propõe nova abordagem para avaliar os impactos dos rejeitos nos ambientes costeiros e marinhos.

Construído de maneira colaborativa, documento trata do desafio de transformar dados e informações em conhecimento para subsidiar as decisões sobre a recuperação da região. 

 

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October 3 2018, Fundação Renova | Expedição Caminho da Reparação Aerial view of Rio Doce estuary

Photo: © NITRO Historias Visuais

Gland, 29 de novembro de 2022 – O impacto do rompimento da barragem de rejeitos de Fundão nos ambientes costeiros e marinhos ainda é desconhecido, em parte devido às avaliações isoladas que vêm sendo usadas nos últimos sete anos, segundo o Painel de especialistas independentes do Rio Doce em seu relatório final.

"Esta falta de conhecimento representa uma das lacunas mais significativas no processo de restauração da bacia do Rio Doce", afirmou Luis Sánchez, especialista em avaliação de impacto e membro do Painel do Rio Doce. Ele complementa que “os programas de monitoramento, pesquisa científica e estudos direcionados obtiveram vastos dados e informações e nossa proposta é uma abordagem metodológica para conduzir uma avaliação retrospectiva (ex post) dos impactos dos rejeitos a partir de dados pre-existentes.

O 5º e último Relatório Temático do Painel do Rio Doce - Impactos ambientais da dispersão de rejeitos de mineração em ambientes costeiros e marinhos: lições e recomendações para a avaliação de impactos ex post - propõe uma nova metodologia para avaliar os impactos na área costeira que orienta sobre como extrair evidências de impactos a partir dos dados dos programas de monitoramento ambiental. Também fornece recomendações específicas para os principais responsáveis pela restauração, bem como conselhos para a aplicação da ferramenta em outros contextos de desastres. Para o Rio Doce, a abordagem sugere a utilização de evidências já coletadas e análises científicas para identificar, descrever e avaliar o impacto dos rejeitos na biodiversidade da foz e proximidades.

O Relatório apresenta um breve histórico das iniciativas de monitoramento e estudos nos ambientes costeiros e marinhos e aponta riscos que análises conflitantes podem representar para o entendimento da situação total, dificultando a definição das ações de restauração. O Relatório também mostra como outras experiências internacionais lidaram com as incertezas, trazendo lições valiosas para o contexto do Rio Doce.

Para a criação do relatório e desenvolvimento da metodologia, o Painel liderou uma série de oito workshops entre dezembro de 2021 e julho de 2022, e trabalhou em conjunto com a Fundação Renova e com a Fundação Brasileira de Desenvolvimento Sustentável (FBDS), que apoia a avaliação e o estabelecimento de estratégias de conservação na Bacia do Rio Doce, no contexto do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA).

Ao longo de sua construção, a proposta metodológica também foi apresentada e discutida com técnicos integrantes da Câmara Técnica de Biodiversidade do Comitê Interfederativo (CT-Bio/CIF) e da Vale envolvidos diretamente nos programas de monitoramento executados na região costeira.

Durante o lançamento online, Luis E. Sánchez, autor líder do relatório, apresentou a metodologia e explicou como a proposta foi construída: “nós tomamos uma linha do tempo com uma determinada data de referência e fizemos uma avaliação retrospectiva, olhando para o passado, para entender as consequências de determinados fenômenos e tomar decisões de ações a serem realizadas". 

Sánchez também reforçou a importância da clareza e objetividade na hora de divulgar os resultados, garantindo que estes sejam acessíveis a todos. ”Para facilitar a comunicação com tomadores de decisão e partes interessadas, é necessário que os relatórios sejam redigidos em linguagem simples", afirmou.

A ambientalista internacional Yolanda Kakabadse, presidente do Painel do Rio Doce, enfatizou a necessidade de uma sociedade mais resiliente e preparada: "nunca estamos bem preparados para um desastre, mas o mais importante é termos os instrumentos necessários para responder a eles. O que precisamos é ter a preparação suficiente para lidar com impactos de qualquer fenômeno." 

Mediado pelo professor Marcelo Montaño da Universidade de São Paulo (USP), o evento  contou com a participação de Laila Medeiros, coordenadora de programas socioambientais da Fundação Renova e Aliny Pires, professora da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e especialista  da FBDS. As duas apresentaram as bases da utilização da metodologia pela Fundação Renova e os resultados da aplicação piloto, implementada pela FBDS, que deverá ser ampliada para outras áreas da foz. 

Download do relatório completo:

Português: https://doi.org/10.2305/IUCN.CH.2022.11.pt

Inglês: https://doi.org/10.2305/IUCN.CH.2022.11.en

A gravação do evento com as apresentações técnicas do Painel do Rio Doce, da Fundação Renova e da FBDS, estão disponíveis no YouTube da UICN América do Sul:

Sobre o Painel do Rio Doce
Convocado e administrado pela UICN, o Painel do Rio Doce é formado por especialistas nacionais e internacionais que reúnem uma ampla gama de conhecimentos técnicos, qualificações acadêmicas e conhecimentos locais e elaboram recomendações objetivas para a Fundação Renova sobre a recuperação da Bacia do Rio Doce. Entre eles está a Presidente do Painel, Yolanda Kakabadse, ex-Ministra do Meio Ambiente do Equador e ex-Presidente da UICN. O autor principal do Relatório é Luis E. Sánchez, professor da USP, especialista em avaliação de impactos ambientais e igualmente membro do Painel.