Story | 16 Dez, 2022

Painel do Rio Doce debate os desafios da restauração durante o Fundão Dam Science Meeting

A segunda edição do Fundão Dam Rupture Science Meeting foi realizada de 21 a 22 de setembro em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, com o objetivo de compartilhar informações técnicas sobre as consequências do rompimento da Barragem do Fundão e os processos de recuperação da Bacia do Rio Doce.

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Maria Cecília Wey de Brito, Adalberto Val, Christianne Maroun and Luis Sánchez during the Fundão Dam Science Meeting.

Photo: IUCN/Rio Doce Panel

Ouro Preto, setembro de 2022 - Nessa segunda edição, o Painel organizou a mesa redonda Desafios da Restauração - Redirecionando esforços em um ambiente em transformação, para refletir sobre medidas futuras para conservar e restaurar a bacia hidrográfica do Rio Doce.

O biólogo, pesquisador e professor universitário Adalberto Luis Val abriu as discussões, trazendo uma necessária reflexão sobre as mudanças e as variações - assim como os impactos externos - que acontecem nos ecossistemas naturais. 

O professor lembrou que podemos conservá-los e restaurá-los a um estado melhor do que se encontram atualmente, ou que estiveram no passado. E ressaltou a importância de se criar conexões entre os saberes científicos e o etnoconhecimento.   

Especialista em avaliação de impactos, Luis Sánchez falou sobre as múltiplas perspectivas de se olhar o desastre e avaliar seus impactos, reforçando a importância de identificar e entender quais foram e, a partir desse ponto, estabelecer os programas de reparação e mitigação. E reforçou a necessidade de se acompanhar esses programas, para se certificar se estão entregando os resultados previstos. 

Segundo Sánchez, hoje, sete anos após o rompimento da barragem, sabe-se bastante sobre os impactos do rompimento de fácil identificação. Alguns deles são observados de maneira evidente, como a perda de meios de vida das populações ribeirinhas na foz do Rio Doce. No entanto, ainda compreendemos pouco os impactos de longo prazo. Há lacunas de conhecimento que somente poderão ser preenchidas com estudos e levantamento de novas hipóteses. 

Christianne Maroun, especialista em mudanças climáticas e governança ambiental no Painel do Rio Doce, trouxe reflexões sobre as mudanças climáticas nos processos de restauração. Maroun destacou que a bacia vive extremos climáticos desde sempre, mas que recentemente, os efeitos foram potencializados, como nas cheias que ocorreram em 2020 e 2022. Com o rompimento da barragem, a vulnerabilidade das comunidades e dos próprios ecossistemas, já existentes anteriormente, se intensificou. Dessa forma, há uma necessidade de se adaptar às mudanças, que trazem riscos e oportunidades. As soluções propostas devem responder aos desafios da sociedade de maneira efetiva e adaptativa, proporcionando simultaneamente o bem-estar humano e os benefícios da biodiversidade e trazendo novas alternativas para enriquecer o processo de restauração da Bacia. 

Por fim, Maria Cecília Wey de Brito, especialista em gestão de paisagem da biodiversidade no Painel do Rio Doce, lembrou que os rios não existem isoladamente e fazem parte de uma bacia onde é preciso considerar todo o sistema fonte-mar e a paisagem que compõe o ecossistema. Por isso, é importante prestar atenção nas características sociais, econômicas, culturais e ambientais como um todo. 

A especialista ressaltou a política nacional de recursos hídricos, que traz a bacia hidrográfica como a unidade de gestão desses recursos; e o plano nacional de gerenciamento costeiro, que reconhece só ser possível resolver os impactos da poluição marinha por meio da integração da gestão de bacias hidrográficas e da zona costeira. 

Ao final das apresentações, os membros do Painel interagiram com o público e responderam questões que abordaram temas diversos, como: a falta de políticas públicas que minimizam questões ambientais; a possibilidade de articulação, com os novos governos, para se construir uma política real de bacia hidrográfica; as ações que facilitariam o processo de compartilhamento de informações; e a percepção do Painel sobre a restauração do Rio Doce. 

O Fundão Dam Science Meeting foi realizado pela Society of Environmental Toxicology and Chemistry (SETAC) na América Latina, em Ouro Preto, nos dias 21 e 22 de setembro. Saiba mais sobre o evento.